terça-feira

Ruiva

são verdes. muito verdes. suas íris são verdes-muito-verdes, rajadas de um cinza sutil que lhes dá profundidade e contrasta com o branco de seus olhos. que são, aliás, muito brancos, a não ser por aquelas minúsculas veias vermelhas que teimam em não sumir; como se sempre estivessem injetados. atentos, talvez.

e, além de atentos, penetrantes: olham-me como se me lessem. e pior, como se me soubessem. e devem saber, por certo. foram esses olhos verdes-muito-verdes que primeiro me atraíram. foi quando esses olhos verdes-muito-verdes me olharam pela primeira que soube que, daquela vez, ao menos, as coisas não seriam como sempre haviam sido. não com ela. não com aqueles olhos verdes-muito-verdes que, afinal, estavam lendo os meus olhos negros-não-tão-negros.

foi, de fato, naquele momento que a desejei. foi quando ela sorriu pra mim. mas não com sua boca carnuda e úmida. não, seria trivial demais -e veremos que trivial não se aplica a ela. ela me sorriu, veja só, com aqueles olhos verdes-muito-verdes. e, então, seu rosto se acendeu e eu a desejei. fortemente. animalescamente.

(não que exista orgulho em dizer que a desejei de forma brutal e suja. muito suja. mas, no fundo, não me posso privar de dizer quais eram, ao menos naquele instante, minhas reais intenções. ainda que de modo algum nobres.)

ela se dirigiu a mim, disse qualquer coisa como 'olá', 'tudo bem' ou qualquer desses quebra-gelos que se dizem e, confesso, não me interessava o que ela dizia. ainda estava atento demais a sua expressão. a bem da verdade, ainda não tinha olhado seu rosto. via apenas os olhos. verdes. muito verdes.

ela insistiu no diálogo e, quando perguntou se eu tinha algum problema, rompeu-se o transe. e, finalmente, a vi além daqueles olhos verdes-muito-verdes.

era alva, de pele quase leitosa. seu cabelo rubro-fogo brilhava e levemente tremeluzia ao vento. digo, tremulava ao vento. e as sardas em sua face lhe conferiam certo ar pubescente que só fizeram aumentar meu desejo inominável. não que fosse, de maneira alguma, menor de idade. mas aquelas sardas pontuando seu sorriso lhe deixavam com uma aura jovial e... bem, fato é que não havia nenhum crime em meu desejo. a não ser, bem entendido, pelas próprias coisas que desejava: aquele fervor havia de ser crime em diversos lugares.

usava uma roupa... enfim, usava uma roupa, como é hábito em nossa sociedade, mas não tenho nenhuma condição de dizê-la, a não ser que era um pouco -bem menos do que me gostaria- cavada no decote e sugeria que aquelas sardas todas lhe marcavam toda a figura. sim, sim, havia de ser toda sardenta e, mais uma vez, me perdi no diálogo, adivinhando onde lhe pontuariam: em todo o colo, nas costas, ao redor do seio e, talvez em  maior ou menor quantidade próximos à púbis, que tinha de ser rubro-fogo também. tinha de ser!

que desastre nossa primeira interlocução. ela tentando estabelecer o mais idiota dos contatos e eu, o mais idiota, tentando lhe imaginar despida. não que imaginar as moças nuas não seja hábito, mas dessa vez eu estava conseguindo chegar a detalhes demais. e me entretia. e me desconectava da realidade.

ela perguntou uma coisa qualquer e só consegui dizer 'você deve ter sardas em lugares que nem imagina. mas, não se preocupe, estou imaginando por você'. como disse: eu, o mais idiota. ela ruborizou. mordeu timidamente seu carnudo lábio inferior e desviou o olhar. será uma longa noite de imaginação, pensei imediatamente. então ela explodiu numa gargalhada. e todo seu sorriso, novamente, acendeu. e todo o meu corpo ascendeu.

ela rapidamente sentou-se a meu lado e se apresentou.

(perceba que, neste momento, a situação se tornara leve, descontraída. o que, para mim, foi um alívio. conseguiria voltar a interagir com o mundo. ainda que continuasse seguindo a trilha de suas sardas. mas havia retomado o controle. mínimo, mas o bastante para o momento.)

ela rapidamente sentou-se a meu lado e se apresentou. sorrindo. sempre. conversamos por alguns minutos sobre assuntos outros até que resolvi convidá-la para um café: uma saída polida e pretensamente elegante e desinteressada. porém, revendo a situação agora e sua reação a meu primeiro comentário, não teria sido deslocada chamá-la a um motel para que pudéssemos, enfim, saciar nosso desejo. bem, talvez o meu desejo.

aliás, convém contar onde estávamos até então. não que interfira na narrativa, mas estávamos aguardando o atendimento no oftalmologista. não que isso me tenha feito atentar para seus olhos; pelo contrário, há de se imaginar que, num oftalmo, os olhos sejam fontes de problemas. os meus, definitivamente, eram. mas funcionavam bem o bastante para identificar aquela figura naquele ambiente inóspito de todo.

o fato de ambos perdermos nossas consultas não parecia motivo de preocupação. a conversa banal tinha se encaminhado bem e um sugestivo café era a solução. curioso é que não consigo me lembrar sobre o que falamos. mas não perdia um gesto seu sequer. acompanhava seus olhos verdes-muito-verdes e via sua boca carnuda e úmida abrindo e fechando para emitir sons ininteligíveis. e via cada fio de cabelo rubro-fogo bruxulear ao sol matinal. e como esvoaçavam.

e atentava para o modo como seus dedos encaracolavam frágeis madeixas de cabelo e, às vezes, ao largá-las, iam invariavelmente para sua boca, que mordia uma de suas unhas sem esmalte. eram curtas, as unhas. mas não roídas, o que me sugeriu que ela calculava todos os seus gestos. sim, ela estava mesmo me seduzindo. sim, ela sabia que meus olhos haviam de acompanhar os seus e seus dedos e seu sorriso e sua boca e seu cabelo e, claro, suas sardas. ainda que não as visse todas. mas as saberia. e percebia, cada vez mais, que ela queria que eu as soubesse.

a conversa prosseguiu por mais alguns cafés. talvez três, talvez mais. talvez nem fosse café que bebíamos. ela então pegou um guardanapo e pediu uma caneta à mocinha feia de ar cansado que atendia as mesas. rabiscou seu nome e um número de telefone no guardanapo e o beijou. não havia notado ainda que estava de batom. talvez fosse um de tonalidade mais discreta, talvez para imitar a coloração natural da boca. talvez fosse um desses truques que só as mulheres dominam e que sempre nos fisgam. deixou o guardanapo com seu beijo na mesa e saiu. não disse nada. disso tenho certeza.

por dias liguei. não insistentemente, para não parecer desesperado. afinal, ela sabia que eu a desejava, mas não queria que ela me visse como um coitado. embora me sentisse um. por dias liguei. não diariamente, não mais que uma vez por dia. jamais deixei recado. mas ela nunca atendeu. até que desisti, derrotado. frustrado é a palavra. e ainda excitado.

meses se passaram. às três da manhã toca meu telefone. número bloqueado. ao atender, a ligação cessa. trote, pensei. me ajeitei na cama e tentei voltar a dormir. quase consigo, mas o telefone volta a tocar. novamente, número bloqueado. dessa vez, porém, consigo atender. ela susssurra. diz meu nome, apenas. eu silencio. 'sinto sua falta. quero te ver,' ela diz e desliga. e, claro, eu  não volto a dormir.

no dia seguinte, misteriosamente, ela bate à minha porta. cedo, muito cedo. muito mais cedo do que eu gostaria ou teria condições de recebê-la. todavia, eu a deixo entrar. é embaraçoso ter de se desculpar em sua própria casa, mas não gostaria de lhe dar atenção antes mesmo de poder escovar os dentes e lavar a cara. até porque não tinha mesmo certeza de que aquilo estava acontecendo. veja, poderia ser sonho ou resquício da embriaguez da noite anterior.

pratiquei minha higiene pessoal com rara dedicação. quando voltei à sala não a encontrei. claro, sempre eu, o mais idiota: alucinei. voltei ao quarto e a encontrei em minha cama. nua.

'achei que era hora de você parar de imaginar onde tenho sardas. por que não vem olhar e me dizer?'

sua pele alva era toda pontuada por sardas amarronzadas, tal qual uma onça. seus olhos verdes-muito-verdes me fitavam lascivamente e sua boca estava entreaberta. sua respiração era lenta e seu peito arfava, fazendo seus seios subirem e descerem acompanhando o ritmo.

ela estava ajoelhada em minha cama, de frente para mim. seus seios não eram grandes. nem pequenos.  mas eram redondos e firmes, coroados por mamilos rosados e intumescidos, que apontavam ligeiramente para cima, como se me olhassem nos olhos. a base redonda de seus seios me dava a certeza de que permaneceriam sempre a apontar ao céu. suas auréolas eram também rosadas e ligeiramente maior que os mamilos.

sua barriga lisa tinha muitas sardas e, curiosamente, uma baixa densidade delas ao redor do umbigo. mas elas voltavam a adensar conforme se aproximavam de sua virilha e suas coxas de cerâmica fina. sim, seus pelos eram também rubro-fogo e ela os mantinha aparados o suficiente para que lhe conferissem um ar incendiário mas não longos o suficiente que obstruíssem a visão de seus lábios. tinham formato quase triangular, mas um tanto irregular e achei que ela própria os aparava. mas não vi traços de irritação ou pelos encravados em sua pele, portanto não devia fazê-lo com lâmina. talvez usasse cera ou tivesse uma daquelas maquininhas de aparar barba.

sua pele, aliás, era frágil e sedosa. sentia como se fosse feri-la ao tocar sua cintura com minhas mãos ásperas e calejadas. minhas mãos são também ressequidas e estão sempre descascando. toquei suavemente seu corpo, justamente por medo de arranhar tão fina louça e fui suavemente repreendido. 'não sou uma boneca. sei que você quer me pegar com vontade. vá em frente.'

(adoro mulheres que mandam em mim, embora tenha certo receio de assumir isso de saída. mas, como disse antes, ela me sabia ler.)

deslizei meus dedos por sua barriga e pela base de seus seios. sempre olhando seus mamilos que me olhavam de volta, como se me desafiassem a prová-los. toquei-lhes levemente, evitando estrategicamente os mamilos. passei os dedos por suas auréolas e não toquei os mamilos. afastei-me para olhá-la e, finalmente, ela se constrangeu. desviou o olhar e quis cobrir sua nudez.

agarrei-lhe firmemente os braços e disse que gostava muito do que via. que não queria que se sentisse invadida, mas contemplada. ela respirou fundo para sorrir e isso fez com que, novamente, seus seios arquejassem. e esse era o movimento por que ansiava. ela percebeu -provavelmente eu sorri com malícia ou meus olhos se iluminaram- e o repetiu ainda algumas vezes.

ela então pegou minhas mãos e as colocou em sua cintura, inclinando a pélvis em minha direção. e sorrindo sempre. deitou-se na cama, levantou os joelhos e os afastou. finalmente pude ver com nitidez seus lábios e sua vulva. particularmente rosada. mas de um rosa escuro, levemnete arroxeado, como se atraindo grande quantidade de sangue. na luz da manhã que entrava pela janela, pude ver, vertendo de sua vulva, o reflexo de seu desejo: estava úmida.

passou então o dedo médio de sua mão esquerda em seu clitóris, escorregou lentamente para dentro de sua vagina e o movimentou lá dentro por alguns segundos. depois retirou-o e o colocou em minha boca. eu ainda não a havia beijado e não sabia como seria o sabor de sua boca. mas seu gosto era de se deleitar. suave e doce, com aquele fundo ácido inconfundível, quase picante. eu, literalmente, lambi os beiços. e ela riu. e se abriu e se ofereceu para mim, puxando minha cabeça em direção a sua púbis.

quando a ponta de minha língua tocou seu clitóris, todo seu corpo estremeceu e suas coxas prensaram minha cabeça. ela ergueu um pouco a pélvis e forçou minha cabeça contra seu corpo, para aumentar a fricção. continuei lhe lambendo, mas agora não mais com a ponta da língua e, sim, com ela toda. após alguns minutos, deixei de resistir a meu ímpeto inicial e me permiti introduzir minha língua o máximo que consegui em sua vagina. ela gemeu surpresa, como se nunca lhe tivessem feito isso.

realmente seu sabor era inigualável. doce e levemente ácido, com uma viscosidade que fazia com que seu suco permanecesse ainda na boca por um tempo, como que para prolongar esse paladar. e como era úmida. ela realmente chegava a escorrer de desejo.

num movimento brusco, ela se levantou e me jogou deitado de costas na cama. enfiou sua mão dentro da minha bermuda, sentiu o quanto eu a desejava e finalmente me beijou. longamente. sem largar meu membro. mas sem mexer nele, tampouco. apenas o segurava. forte. sua língua era macia e movia-se graciosamente dentro da minha boca. sua saliva era doce, com um leve fundo de café. confesso que não sei exatamente se esse gosto era por conta do horário ou se era memória afetiva de nosso -único- encontro anterior. e seus lábios carnudos tinham o sabor peculiar de batom.

ela, após longos momentos, descolou seus lábios e sua língua de mim e olhou para o meu corpo. não que tenha muita coisa para se olhar. sou meio magrelo, de maneira nenhuma atlético e até meio peludo demais. não sou bem dotado, mas não me envergonho, também. ela percorreu as mãos pelo meu tórax ossudo e abriu minha bermuda. quando ela a tirou, meu pênis saltou em sua direção e ela sorriu, surpresa. ao menos a mim, pareceu satisfeita. ela, mais uma vez o agarrou com força, e o massageou algumas vezes. perguntou-me se eu gostava daquilo e, ao não obter uma resposta articulada, me disse que iria interpretar meu 'grunhido' como um sim. eu gemi e estremeci.

ela me deu um rápido beijos nos lábios e voltou sua atenção a mim. ela habilmente colocou meu pênis em sua boca e o chupou suavemente, sempre acompanhando os movimentos de sua cabeça com as mãos. às vezes, ela deliberadamente os descoordenava: enquanto sua boca subia, suas mãos desciam por meu membro. outras vezes, ela o tirava da boca, o olhava com atenção e o beijava carinhosamente, ou lambia lentamente sua ponta, sua base ou meus testículos, ou os punha inteiros na boca. outras vezes, ainda, apenas parava por um instante, olhava para ele, e sorria. e depois retomava a rotina.

eu mal conseguia balbuciar sílabas, tomado de volúpia que estava. ela, após um longo tempo -que ainda assim me pareceu curto demais-, me olhou fundo nos olhos, esfregou seus seios em meu rosto e disse 'agora te quero dentro de mim!' e, sem grande cerimônias, montou sobre mim e escorregou-me pra dentro de seu corpo jorrando de prazer.

e então colocou novamente os seios sobre meu rosto, escorregando-os até minha boca quando, então e só então, eu toquei seus mamilos. eles se endureceram ainda mais entre meus lábios e ela gemeu abafadamente. seu corpo estremeceu e suas pernas bambearam levemente, fazendo seu corpo pesar um pouco mais sobre o meu. eu ergui minha pélvis e puxei sua cintura para baixo.

não demorou muito e ela arregalou os olhos e ordenou que a olhasse fundo nos olhos verdes-muito-verdes 'olha pra mim que eu vou gozar!' não resisti e gozei também. junto com ela. ela, então, soltou seu corpo sobre o meu, ainda sem me tirar de dentro e pude sentir, além  de seu peito arfante e sua respiração ofegante, sua vagina pulsando involuntariamente ao redor de mim. perguntei, em tom meio jocoso, se ela era que fazia aquilo. ela riu e disse que não e contraiu mais fortemente seus músuculos vaginais 'agora sou eu!' e gargalhou. depois, completou 'isso é tesão mesmo, não consigo fazer assim tão rápido e tantas vezes. nem com essa regularidade. até queria, mas não domino o pompoarismo.' e nós rimos juntos e adormecemos. eu ainda dentro dela.

acordei horas depois num quarto solitário. tinha, mais uma vez, certeza de que havia sido um sonho. muito bom, mas um sonho. até que achei um guardanapo -do mesmo lugar- na mesa da cozinha, junto a uma xícara vazia de café. com um recado e um beijo: só me pedia que fizéssemos do seu jeito. tentei ligar novamente no número que ela me havia dado, mas uma impessoal gravação confirmou que aquele número havia sido desativado.

o que me restava, ao que parecia, era viver com essa lembrança.

até que, alguns meses depois, às três da manhã, um número bloqueado me ligou...