odeio o verão.
em geral.
especialmente nessa cidade, que é seca nessa época. e o metrô é ainda mais quente. mas e úmido. nas estações, bem entendido.
mas os trens têm ar-condicionado e chegam com frequência razoável. o que é, e parte, um alívio.
mas, de quando em quando, tenho de -simplesmente tenho, não me julguem- sair e tomar um líquido gelado (em média, chás funcionam. quando o sol se põe, cervejas de alta fermentação e alto teor de lúpulo tendem a ser mais eficientes).
num desses dias de verão intrasigentes, saí do metrô. subi até a rua e procurei pelo café mais próximo. um daqueles com ar-condicionado e que aceitassem minhas cédulas fedidas e amassadas.
sentei-me, como de costume, de frente para a porta. degustando com parcimônia minha bebida cafeinada e refrigerada.
por volta do segundo gole, uma asiática sensual entrou. de primeira vista, parecia japa. mas dava passos confiantes demais... sim, sabia andar no salto que usava.
caminhou até o fundo da loja: falou com a atendente, escolheu uma mesa... outra... ainda uma terceira e, finalmente, na quarta, pediu que a garçonete limpasse o que quer que estivesse poluindo sua escolha.
sentou-se. era uma asiática esguia, elegante e bem vestida. com seu salto não-muito-alto e passos decididos, tinha uma presença imponente. seu vestido preto justo ressaltava suas pernas torneadas. seu cabelo longo e escorrido (vejam: era liso e pesado, não era seboso) cobria levemente seus ombros e seu ohar era estranhamente focado. não em mim, evidentemente.
ela bebia sua bebida comedidamente e olhava inseguramente ao redor.
e foi isso que me perturbou. sua postura tão segura e seu olhar tão afoitos pareciam não concordar.
após alguns minutos, sua amiga oriental baranga entrou no mesmo café.
a gata levantou-se, como se reconfortada. abraçou e beijou a amiga, sorriram-se fraternalmente. e puseram-se a conversar. muito. intimamente.
e começaram a chorar. as duas.
muito.
mas a gata ainda estava de frente para mim. e ainda vestia seu vestido justo e bem cortado. evidentemente, não tinha se dado conta de minha presença.
e seu choro era sincero. e parecia um tanto desesperado. percebia isso pelo modo com se movimentava na mesa, coordenando seus gestos com a baranga. que, curiosamente, parecia muito íntima dela.
ela era uma moça muito bonita e -agora, para evitar juízos e represálias, lanço mão de termos corretos- viçosa e sentou-se de frente para mim. mas chorava copiosamente e se retorcia
languidamente.
mas não usava calcinha. e, de onde estava, na situação... enfim, triste em que se encontrava, eu, alheio a seu sofrimento (dado que nem a conhecia), via com detalhes sórdidos sua intimidade.
sua vulva volumosa e voluptuosa e vermelhosa se abria e lágrimas vertiam de suas coxas e pálpebras. evidente que me senti mal por desejar uma moça tão vulnerável.
mas via que suas lágrimas corriam de seus olhos, acompanhando seu torso arquejante e sua respiração turbulenta. mas havia um sorriso estranho e perverso em seus lábios (superiores) quando, de soslaio, me olhava.
e era isso que não sabia explicar: seu tumulto interno contrastando com seu êxtase físico.
paguei a conta e saí do lugar.
três quadras adiante, fui puxado pela manga e -juro- quase infartei ao ver a baranga me interpelando. em nome da asiática delicia.
a baranga me contou com detalhes a trágica trajetória da amiga e me pediu que fosse o elemento de transição a uma vida, abre aspas, mundana e corriqueira para sua irmã adotiva.
e eu, frouxo e inseguro que sou, não sei se não entendi ou não consegui corresponder... disse, atabalhoadamente que não entendia -muito bem- seu idioma e me afastei aos tropeços da baranga.
odeio o verão...
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